José Chlau Deveza nasceu no Rio de Janeiro em 1922, onde viveu a maior parte de sua vida. Desde pequeno já observava seu pai, Raul Deveza pintando, desenhando, etc. Decidiu-se por seguir a mesma carreira do pai e cursou a faculdade de Belas-artes da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.
Em 1944, a Ditadura Vargas, enfim se dobraria as inúmeras manifestações dos democratas brasileiros, romperia definitivamente com o governo alemão, e junto com as forças aliadas (URSS, EUA e Inglaterra), enviaria tropas brasileiras para lutar na 2ª Guerra Mundial. Dodô, como é conhecido na família o professor Chlau Deveza, tinha apenas 22 anos, e teve seu nome listado entre os convocados para lutar contra os fascistas na Itália
Nesse tempo, as campanhas anti-fascistas eram agitadas principalmente pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), Chlau e Raul Deveza, simpáticos ao comunismo, engajaram-se nas campanhas que pediam a entrada do Brasil na Guerra.
Por sorte, ou por azar, como contaria anos depois, o Dodô acabou pegando o excesso de contingente e não foi enviado para a fronte de batalha na Itália. Muitos brasileiros se alistaram voluntariamente, muitos democratas e anti-fascistas desejaram compor a Força Expedicionária Brasileira (FEB), tantos, que ao final tinha-se mais voluntários que o necessário. Logo a Guerra seria vencida pelos Aliados e o Exército Vermelho, em agosto de 1945 hastearia a bandeira vermelha sobre o Reichtag, selando o fim da 2ª Guerra Mundial. Com isso, os comunistas no mundo conquistariam um enorme prestígio, Luis Carlos Prestes (preso desde 1936) seria anistiado junto com outros comunistas, o PCB seria legalizado e os comunistas viveriam um interregno democrático até 1947.
Por volta deste período, Chlau Deveza fará as opções que carregará para o resto de sua vida. Primeiro, junto com seu pai, se engajará definitivamente nas fileiras do Partido Comunista, fará dezenas de retratos de Lenin, Stalin, Prestes e de vários outros dirigentes comunistas, afim de contribuir como artista na propaganda comunista. Lembremos que nessa época não existia a tecnologia gráfica que existe hoje. Um retrato, ou um cartaz, muuitas vezes necessitava ser feito por artistas plásticos. A própria fotografia tinha limitações quanto a sua ampliação. Sua atividade política estará principalmente nas campanhas estudantis na Universidade do Brasil.
Nesse tempo, conhece uma jovem estudante de arquitetura, judia e comunista, Etel Waismann. Encanta-se com a sua altivez e ousadia. Passa os últimos anos do curso de belas artes entre as aulas de Belas Artes , sua nova namorada e as atividades políticas do PCB.
Embora perseguidos durante a década de 30 pelo Estado Novo, entre 1945 e 1950 os comunistas passam a apoiar Getúlio Vargas, que nesse tempo parecia inclinado a uma perspectiva mais nacionalista. O ditador, com destreza, depois de isolado entre as elites no final da Guerra, buscou entre as forças populares e a burocracia estatal um apoio para uma nova candidatura à presidência. Conseguiu, em 1950, após a presidência de Dutra, Getúlio voltaria ao poder, mas dessa vez aprovaria algumas medidas populares. Entre elas, decretaria o monopólio do Petróleo e a criação da Petrobras.
A exploração nacional do Petróleo brasileiro, após a 2° Guerra Mundial, foi motivo de intensas manifestações populares, sob a palavra de ordem “O Petróleo é Nosso!”.
Etel Waismann, ainda estudante de arquitetura jamais esqueceria uma de suas maiores aventuras da juventude. Enquanto inúmeros democratas organizavam uma manifestação de defesa do Petróleo, o governo Dutra enviou a tropa de choque. A correria foi enorme e a lembrança de Etel registraria o momento em que seu namorado e seu futuro sogro pegariam a sua mão e correriam em busca de proteção contra a polícia.
Ao final da década de 40, Chlau Deveza participaria de reuniões do PCB ao lado de importantes figuras das artes no Brasil, conforme nos é narrado em uma biografia de Paulo Werneck por Cláudia Saldanha.
“Seu ateliê [do Muralista Paulo Werneck, ]em Laranjeiras, um abrigo antiaéreo no subsolo de um prédio em Laranjeiras construído em 1945, durante o curto espaço de tempo em que foram obrigatórios tais abrigos em edifícios familiares, era ponto de encontro de artistas filiados ao Partido Comunista Brasileiro. Ali Cândido Portinari, Carlos Scliar, Chlau Deveza, Glauco Rodrigues, Israel Pedrosa e Oscar Niemeyer, entre outros, participavam de reuniões em que se discutiam a arte, a arquitetura e a política nacional e internacional.” (www.projetopaulowerneck.com.br)
Ao final dos anos 40 sua companheira Etel Waismann se tornaria sua esposa, e em 1949, teriam seu primeiro filho, Michael Deveza. O casamento de Etel Waismann e Chlau Deveza seria conturbado, pois por tradição, a comunidade judaica não aceitava que os judeus casassem com não-judeus, ainda mais com um ateu como o Dodô, já reconhecido artista ligado ao PCB. Afeita a rebeldia, Etel e Chlau enfrentaram a tradição, se negariam a oficializar sua união em qualquer religião e casaram-se apenas no cartório.
Por essa época, Chlau Deveza e seu pai seriam presos após uma pichação política. Os dois, mais outros militantes comunistas foram presos e encarcerados. Logo sua prisão virou notícia e os advogados do PCB começaram a interceder pela libertação dos comunistas. Como Raul Deveza já era reconhecido como um artista plástico importante, os órgãos de repressão decidiram soltá-lo, junto de seu filho. Raul se negou a aceitar o indulto enquanto seus outros companheiros não tivessem o mesmo destino. Pouco depois conquistariam a liberdade ao lado de todos seus companheiros.
Etel Waismann, agora Etel Waismann Deveza, como uma boa Idish mama (Mãe judia), diminuiria sua participação no PCB e se dedicaria ao sustento da família e a criação dos filhos.
A foto ao lado mostra, Michael Deveza, ao fundo, Marcel Deveza e Ramon Deveza em primeiro plano.
Continua…